Determinação

Insistimos em montar
Quebra-cabeças
Sem ter todas
As peças.

Os outros

O que pensam
Não convém
O que penso
Me mantém.

Mil alegrias

Náufrago a nadar mil dias
Uma ilha ao longe
Que promete mil alegrias
Onde o Sol se esconde.

Feições angelicais

Um pesadelo tranquilo
Um sonho agitado
Dragões incendiários
Com feições angelicais.

Octanas

Gasolina de 123 octanas
Potência garantida
Nos engarrafamentos
E rodando abaixo do radar.

Pingos de água

Mesmo quem é oceano
Também é feito
De pingos de água.

Rosas e espinhos

No fim das contas
Um espinho no ramo
Não desmerece a beleza
Da rosa na outra ponta.

Calçada

Pedestres, perdemos a calçada
Calçada agora é vitrine
Calçada é escritório de trabalho
Calçada é de onde se tira
O pão que o diabo amassou.

Peso de pensamento

Nem muito, nem pouco
Nem o suficiente
A leveza que busco
Tem o peso de um pensamento.

Equilibra

Na ponta do nariz
Na ponta dos dedos
No fio da navalha.

Oferta e demanda

Procurava um plano de amor
Fez orçamento sem compromisso
E conseguiu fechar sem fidelidade.

Soldado amarelo

E o soldado amarelo
Ficou branco como papel
Quando o vaqueiro o saudou
Agora, sob a mesma patente.

Portais das cidades

Ao passar pelo portal de cada cidade
Foi mudando um pouco mais
E de tanto passar por portais
E de tanto mudar, no fim
Se tornou outra pessoa.

Efeito borboleta

Por um conhecido perfume
Voltei ao tempo em que nos encontramos
Roguei-lhe que me contasse a melhor saída
E me respondeu, sem remorsos:
“Jamais me conheça.”

Coletânea

Eras livro em língua estrangeira
E ao traduzir-lhe a última página
Percebi que era apenas o
Primeiro livro da coletânea.

Abraço da fé

Espera de coração aberto
Sono acordado, sonho desperto
Andar no escuro, sem saber o que é
Sentir-se seguro, o abraço da fé.

Mindset do pão

Quanto mais apanha
Mais cresce
Exceto quando não há fermento.

Conhecendo alguém

Pergunte
Quem são
Seus ídolos.

Sensatez

Abrir mão das certezas
É parar de segurar areia nas mãos
É lavar as mãos nas águas
Da sensatez.

Visita

Se passar por aqui
Não repare a bagunça
Falta de jeito, de tato, de assunto
Só repare em mim.

Orgulho

Enquanto dormimos
Em cantos opostos do planeta
Nossas almas se encontram
Pra rir do nosso orgulho.

Genuíno

Corre o rio
Gira o ponteiro
Passa a vida
Mas permanece o genuíno.

Gênio da lâmpada

A gente deseja
E quando consegue
Quer de volta o que tinha.

Futurista

Contratamos quem prevê
Metas pessoais atingidas
Em cinco anos no futuro.

Salário

Salgados eram
Os preços.

Questão crucial

Se você acelera
Meus áudios.

Defeito

Não concordava
Comigo.

Frieza analítica

Surge nos neurônios
Vira pensamento, comando aos lábios
Se concentra na ponta da língua
Mas não se materializa em ondas sonoras
É porque não veio do coração.

Boa memória

Esqueceu do
Meu aniversário.

Bem-sucedido

Mas o do vizinho
É melhor.

Simpatia

Trato bem
Quem me trata bem.

Eficiência

Cheguei com tanta pressa
Que esqueci o que
Vim fazer.

Solo

Solo seco
Se não cai chuva
Acha água nas profundezas.

Luvas

Às vezes, os anéis se vão
Para que os dedos
Caibam nas luvas.

Reclamar

Quando decretarem proibidos os problemas
Cultivaremos problemas clandestinos
Pelo puro prazer de reclamar.

Prioridades

Cantando vossos olhos
Absurdamente estrelados
Percebi que era mais produtivo
Conferir o preço do tomate.

Direção

Às vezes fico a pensar
Que sua aparição
Foi só pra me colocar
Numa boa direção.

Constatações

Não me cabe

a união química da tinta ao papel,

não me cabe.

Não me cabem as ruas,

as praças,

esquinas,

não me cabem,

não se abrem.

Não me cabe essa cidade,

essa porta,

essas salinas

não me cabem.

Essa sociedade

esse país não me cabe.

Não me cabem essas histórias

esses países e suas paisagens.

Não me cabe

Esse mundo pintado,

Universo manchado de disfarce…

Não me cabe.

Não me cabe você,

minha existência, artérias

e insanidade,

pois toda vez, ainda depois de tanto e quanto,

prossigo vendo estrelas em meus olhos,

Universo metafórico banhado de etéreos e

Simbólicos.

Pois quando meu reflexo

no espelho vejo,

me descubro

e me envergonho.

“De quem é esse corpo?”

Estou nele

e é meu.

Primeiro encontro de verdade…

É meu.

Me assusto

e me dou conta…

Ignoro,

pois vejo que nada me cabe,

só o vazio…

pleno…

e tranquilo…

Não me cabe…

O Nada me cabe.

Biscoito da Sorte

Abri um biscoito da sorte
Que me disse pra ter fé
Pra isso tem que ser forte
Mas antes eu tomo um café.

Vitória

Se no final há vitória
Todos os erros
São perdoados.

Pena

Poema é problema
Dilema, teorema
Apequena e condena
E ainda vale a pena.

Terra Prometida

Não é linha reta, só tem curva
O caminho até a meta, vista turva
Estrada esburacada, subida e descida
Tão longa caminhada até a terra prometida.

Vibrante

Te vi sorrindo e cantante
Deveras está tão contente
Tão bom te ver tão vibrante
Sem ser por mim o que sente.

Dopping

Se o escritor é
O atleta da palavra
Quem faz plágio faz dopping.

Moradas

Janelas e portas
Amarelas e tortas
Abertas, fechadas
Espertas moradas.

Talento

Se um dia te roubarem o talento
Lhe restará o trabalho
Que com constância
Se tornará seu novo talento.

Lembrar

Lembrar do que é conveniente
Lembrar do que queremos
Lembrar como queremos.

Mocinhos e Bandidos

Cortina de Ferro. Guerra ao Terror.
Eixo do Mal. Império do Mal.
A guerra é, antes de mais nada
Discursiva.

Seção proibida

Tu és como seção proibida de locadora:
Hoje em dia se encontra na internet
E não era tudo aquilo que eu pensava.

Corda

Distante, tão longe, quase se perdendo
Me agarro à corda, que vira linha, fiapo
Ameaça escapar pelos dedos
Só me resta me unir à corda
E assim me fundir ao ideal que ela prende.